O RISO E O CHORO PELOS MENSALEIROS
Estamos assistindo a um apaixonado debate sobre a prisão dos
mensaleiros. Os que condenam as prisões alegam tratar-se de presos políticos
e que há vários corruptos, de outros partidos impunes e, por isso, a pena é
injusta. Os que se regozijam, afirmam que são ladrões, que têm que pagar
pelos crimes.
Não quero cair nesse maniqueísmo, em questão tão profunda. Deve-se
examinar como o PT chegou a essa situação. É preciso uma análise fria,
calcada em fatos. Não criar bode expiatório,
nem cair em ufanismo.
Devo declarar que convivi estreitamente com o PT quando eu era
dirigente da CUT. Conheci as entranhas desse Partido, cuja atuação no governo
venho combatendo com convicção. Mas, nessa hora, não se pode jogar água no
moinho da direita e, por isso, não me alinho aos que se regozijam com as
prisões. Como acho sem fundamento a choradeira. Parece desespero. E é.
Não me alegra a situação dos presos, não só devido ao imenso prejuízo
para as esquerdas, mas também porque a degradação de quem quer que seja não é
motivo de regozijo. Mas não me alinho aos chorões porque sei que a denúncia
do Sr. Roberto Jeferson tem fundamento, como reconheceu o então Presidente
beneficiário, Lula, ao pedir desculpas ao povo, em cadeia nacional de
televisão. Essa confissão é grande nutriente para a tese “Domínio dos Fatos”.
E mais: José Dirceu, devido à comprovação de sua participação, teve o mandato
de Deputado cassado pela Câmara dos Deputados, apesar de o governo dispor de
maioria na Casa. E a expulsão do
Delúbio do partido.As ressalvas anos depois apresentadas, não anulam o
significado desses fatos.
É óbvio que a grande mídia tira proveito, ao tempo em que esconde os
escândalos dos grupos que lhe são afins, mesmo havendo provas contundentes.
Porém, se os escândalos são maiores ou menores, não importa. Roubo é roubo. E
gatuno tem que ser punido. É preciso denunciar os ladrões de outros partidos.
E não esquecer o caso Celso Daniel.
Não se justifica, porém, a forma autoritária das prisões. É violência
colocar em cárcere fechado quem foi condenado em regime semiaberto. E o
prisioneiro doente deveria ter tratamento adequado. Tratamento que deve ser
também para o outro doente, o Roberto Jeferson.
Mas não é válido o argumento de que há vários corruptos em liberdade
e, por isso, os do PT não podem ser presos. Temos é que exigir julgamento
para os gatunos do PSDB, do PDT, do PR, do PMDB etc. Não é porque os pastores
de igrejas mercantilistas escorcham impunemente o povo, que os políticos
também podem fazê-lo. A existência de governos corruptos não justifica que
outro também o seja. O grande escândalo na prefeitura paulista, a compra de
votos para prorrogar o mandato de FHC etc. não autorizam nem justificam a desonestidade de outros. Atos ilícitos, de qualquer
um, devem ser punidos.
Para mim, é mais importante examinar se a atual situação do PT é fruto
do trabalho da direita ou se é por causa dos erros do próprio partido.
É cristalino que houve uma metamorfose ideológica no partido. Um dos
pecados capitais do PT é não abrir a caixa preta de FHC. Quantas patifarias
viram à tona. Mas, quem tem telhado de vidro... Não fez a prometida auditoria
da privatização da Vale do Rio Doce. Muito menos a da escandalosa dívida
pública. E governa igualzinho ao PSDB-DEM-PPS, com indecentes coalizões. Lula
acovardou-se ao não levar adiante o projeto de regulamentação das mídias, do
ex-ministro Franklin Martins. E quanto ao que seria “Comissão da Verdade e da
Justiça”, exigida em mais de cem fóruns e seminários em todo o país, aceitou
as pressões da direita e retirou o “da Justiça”.
São trágicas as semelhanças dos governos petistas com os dos tucanos:
submissão total ao sistema financeiro, às empreiteiras e ao agronegócio. Em
meu blog (ronaldbarata.blogspot.com), cito muitos exemplos.
Que dizer das privatizações dos aeroportos e rodovias! E das transferências
de nossos recursos naturais, como o preciosíssimo nióbio? E o enfraquecimento
da Petrobras, de Itaipu e da Chesf. E
a entrega à iniciativa privada do maior campo petrolífero do mundo, o de
Libra, além dos que já entregou do pós sal.
Ademais, conforme declarou Lula, nunca os banqueiros ganharam tanto
dinheiro como no governo dele. Se o sistema financeiro e todo o grande
capital está contemplado, plenamente
satisfeito, por que haveria um golpe? O papel carbono atende perfeitamente,
tanto quanto o original. A política econômica tem como pilares o câmbio
flutuante, as metas de inflação e o superávit primário, receita do FMI
implantada por FHC e continuada por Lula e Dilma.
Os governos petistas poderiam ter aprofundado a democracia;
fortalecido os movimentos sociais, principalmente o sindical; democratizado
os meios de comunicação. Preferiram silenciar pela cooptação, conjugada com a
aliança com o capital, e ceder migalhas aos pobres. É, literalmente, a
receita norte-americana que Lula aprendeu quando fez curso no IADESIL, escola
de sindicalismo da CIOLS, criada pela AFL-CIO (braço sindical da CIA). A CUT
está filiada à CIOLS- Central Internacional das Organizações Sindicais Livres.
O BNDES recebeu do Tesouro, em quatro anos, cerca de R$ 400 bilhões,
que emprestou a empreiteiras, bancos e agronegócio a 5,5 e 6% e que o Tesouro
captara a juros de 15%,17%, 13%; E mais o que entregou aos eikes batistas.
Rotular como presos políticos é bazófia. O partido no poder é o dos
apenados. O Tribunal que os condenou tem folgada maioria de juízes indicados
pelos presidentes petistas. No Congresso Nacional, o governo goza de larga
maioria. As Forças Armadas, felizmente, estão recolhidas. Repito: Mais que
qualquer discurso dos juízes, para mim, vale a confissão de Lula em rede
nacional de TV e a cassação de José Dirceu.
Encerro com uma declaração do petista que participou da elaboração do
plano estratégico do primeiro governo Lula e ex diretor da Petrobras, Ildo
Sauer, corroborada pelo ex diretor do BNDES no governo Lula, Carlos Lessa: “O patrimônio
público está sendo entregue aos grupos econômicos, sem contrapartida e
compromisso... Infelizmente, não
temos um governo com visão estratégica, e nem projeto de país, a fim de
buscar uma base de ampliação dos benefícios sociais, a criação de autonomia,
o fim das assimetrias”.
Em 20 de novembro
de 2013 RONALD SANTOS BARATA
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16 de dez. de 2013
O RISO E O CHORO PELOS MENSALEIROS
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